domingo, 1 de abril de 2012

Grande Hotel - por Ghita Galvão

“I want to be alone” (Eu quero ficar sozinha) Frase dita no filme pela personagem de Greta Garbo, a bailarina Grusinskaya, que ficou conhecida como a marca da atriz por ela ser muito reservada, comparecer pouco aos eventos sociais e ser solitária, apesar de ter sido, eleita como a quinta maior lenda do cinema, pelo Instituto Americano de Cinema.

É com Greta Garbo e mais sete estrelas de Hollywood que o filme Grande Hotel é realizado, o primeiro “all-star” dono de outra frase importante dita pelo Dr. Otternschlag, personagem de outro ator famoso Lewis Stone, no início e no final do filme: “Grande Hotel. Pessoas vêm. Pessoas vão. Nada nunca acontece.”. Que é vista como contraditória e se explica no decorrer do filme.

Grande Hotel ganhou o Oscar de melhor filme em 1832 e não concorreu a nenhum outro no ano, é considerado um clássico comercial, preocupado mais com a quantidade de famosos que com a trama. Rodado ainda no início dos filmes sonoros, a interpretação dos atores se utiliza muito do corpo, pois no cinema mudo era necessária uma maior gesticulação para um melhor entendimento, lembrando também o teatro, com a impostação da voz. A fotografia, a trilha sonora, o cenário e a iluminação são elementos que chamam muita atenção, pois estão todos ligados ao luxo e ostentação do Hotel, onde se passa toda a trama, mostrando-o por dentro e por fora, com suas escadarias e elementos de cena luxuosos, como também dos personagens com sua vestimenta e requinte. 

As tramas do filme começam separadas se unem em seu decorrer, por um único fio que é o Grande Hotel. Cada uma, vivida por um grande astro do cinema, algumas são mais desenvolvidas que outras, mas seu conjunto foi o que tornou o filme um sucesso de bilheteria. Foi também o precursor dos “filmes-painéis”, onde os personagens são apresentados inicialmente para melhor entendimento do espectador. Com cenas sensuais para a época e com um final surpreendente que rompeu com a trama linear.

O drama tem direção de Edmund Goulding, é baseado no romance Menschen im Hotel de Vicki Baum e na peça teatral Grand Hotel de William A. Drake, que escreveram o roteiro deste clássico da Grande Depressão. Esta que marcou a sociedade da época, tendo início em 1929, com a queda das ações na bolsa de Nova Iorque, causou inflações, quedas em vendas e grande desemprego, foi sentida em todo o mundo, menos na União Soviética, na época ainda socialista e só teve fim com o início da Segunda Guerra Mundial, por tanto, influenciou também na verba para a produção de filmes. Porém a MGM, produtora de Grande Hotel, teve sua época mais rentável justamente no período da Depressão, sendo, no entanto, um perigo fazer um filme tão luxuoso e com tantas estrelas, sem saber a situação dos que iam pagar a bilheteria deste, que se fez bastante rentável.

No contexto dos personagens, podemos fazer uma análise psicológica e até social do filme, que é permeado por conflitos pessoais, trocando elementos com os sociais, passando-se na Alemanha do entre guerras, em um luxuoso hotel, onde só uma parcela da sociedade poderia pagar pela estada, temos personagens como o senhor Otto Kringelein vivido por Lionel Barrymore que é pobre, mas, por estar doente em estado terminal decide passar os seus últimos dias no hotel, onde lhe fornecem um quarto mais barato o qual é recusado pelo mesmo, que tem economias da vida toda e pretende viver com luxo antes de morrer. Além deste personagem, como exemplo, temos o de Joan Crawford com a senhorita Flaemmchen, que vai ao hotel por ter sido contratada como taquígrafa, pelo rico e presunçoso empresário, Preysing vivido por Wallace Beery, afirma só fazer uma refeição por dia, pois não tem dinheiro para mais, porém aceitar ser a “secretária” do empresário Preysing, para conseguir um quarto no hotel e uma posterior viagem com ele.

Percebemos aí que estes personagens, apesar de pobres, se submetem a muita coisa para usufruir do luxo em uma Berlim do entre guerras, mostrado os ideais capitalistas da sociedade, apesar da Grande Depressão. Vê-se conflito entre patrão e empregado, pois, o senhor Otto Kringelein trabalhou na empresa de Preysing, o qual não tinha idéia de quem era este, discutindo no filme pela senhorita Flaemmchen e levando o assunto para o lado do conflito de classe.

Existem também os clichês, como o da mocinha, a bailarina Grusinskaya – a qual vive conflitos pessoais - que se apaixona pelo mau caráter, lembrando, talvez, os filmes Western com a mocinha boa e comedida e o herói violento, o Baron Felix Von Geigern vivido por John Barrymore, mas agora de outra forma, onde ele é um mau caráter não violento, procurando a melhoria em detrimento do próximo, roubando os mais ricos, mas, sempre pensando nas boas pessoas. É morto pelo, esse sim, violento empresário Preysing, disposto a tudo por dinheiro, quando pega-o roubando.

Por fim, a ultima trama tratada é a de Senf, personagem de Jean Hersholt, que espera o nascimento do filho, só acontecido no final. Logo seguido da frase do Dr. Otternschlag: “Grande Hotel. Pessoas vêm. Pessoas vão. Nada nunca acontece.”, que pode ser interpretada como uma metáfora do mundo, onde tudo acontece o tempo todo e ao mesmo tempo, mas continua tudo igual, nasce e morre gente todo dia, enchem-se as estatísticas, mas essas vidas só têm significado, realmente, para alguns.
Concluindo, como disse Walter Benjamin: “No interior de grandes períodos históricos, a forma de percepção das coletividades humanas se transformam ao mesmo tempo que seu modo de existência.”